Por Sueli Tostes.

A travessia da maior praia do mundo!
230 km
Do Cassino ao Chuí!
12 caminhantes

Grupo unido do início ao fim: Ana Paula Micieli, Barbara Amaral, Bárbara Franz, Celeste Viana, Camila Coubelle, Erick Sanz, Jaminsom Paiva, Lavínia Schwantes, Marcos Carrasqueira, Rose Furriel, Sueli Tostes Oliveira, Tereza Rocha.

O início:

Iniciamos a caminhada nos Molhes do Cassino.
Contamos com o apoio logístico de camionete 4×4 da Dunes levando alimentação em todos os dias. Nossas mochilas e barracas seguiam numa carretilha para todos caminharem leves.
“Dali em diante tudo era como uma reta quase infinita que terminava no horizonte à nossa frente e começava no horizonte às nossas costas.Um abismo horizontal. Agora entendemos porque ganhou esse apelido”.
O piso é reto de areia dura e o primeiro dia de muita ansiedade e expectativa de chegar, sem precisar utilizar o carro de apoio.
Algumas partes do corpo começaram a doer, o joanete reclamou , a planta do pé se manifestou e já comecei a ter noção do que seria aquela aventura.
Mas terminar o primeiro dia completando os primeiros 35 km me deixou com alguma esperança. Afinal agora só faltava 195 km.
Chegamos no primeiro acampamento 1km após o primeiro farol Sarita.
Eu e Jaminson montamos nossas barracas. E aí sentiria o que era dormir com areia, tinha areia em tudo. Areia no meu saco de dormir, dentro da meia (apesar de já ter lavado os pés ) no cabelo, na boca. No jantar também devo ter comido areia.
Enfim, entramos na barraca porque tínhamos que apagar as lanternas para ver se os mosquitos paravam de atacar.
Em poucos minutos todos já estavam recolhidos!
Dentes, será que vou sair lá fora para escovar? Não, melhor não e nem beber mais água para não ter que sair da barraca para fazer xixi.
Enfim 4 horas, hora de arrumar tudo na mochila, desmontar barraca, levar para o reboque, tomar café e partir!
Mas e o número 2 ?
Olho em volta e a duna está a uns 100 metros , sigo até lá , cuidado para não entrar areia no tênis, levar lenço umedecido, pazinha, enfim consigo.

O segundo dia

Iniciei a caminhada firme e determinada. Sempre saíamos em quartetos ou duplas, quem já estivesse arrumado.
Nesse momento eu ajudava um ou outro com os cuidados com as bolhas, que a essa altura já eram muitas.
Durante a caminhada já quase no km 15 , aguardavai o que era o marco importante na trajetória. Íamos parar para repor nossa água, pegar nosso lanche e seguir.
Seguia na maior parte do tempo com Camila, Bárbara, Rose e Carrasqueira na frente.
Finalizando o dia com um banho de mar e seguir para montar barraca, jantar e dormir.

O terceiro dia:

Já tínhamos 02 cachorros nos seguindo. Já faziam parte da trupe e seguiam nossa rotina todos os dias. Só que para eles comer, dormir e caminhar neste ambiente parecia totalmente natural. Aprendi muito com eles, inclusive o melhor local para pisar. Os caninos se adiantavam para pegar pássaros e pular os arroios. Nunca ficavam com quem estava caminhando sozinho, tinha que ter pelo menos dois juntos. Em determinado momento já tinha mais dois cachorros nos seguindo e já sabíamos que eles iriam até o final.

O quarto dia:

Encontramos um caminhante de Santa Catarina ( Alberto) que após 4 dias de caminhada sozinho com sua cargueira, nos contou que seus pés estavam muito doídos e sua água escassa. Ele teria dificuldade de chegar até o próximo arroio e assim foi socorrido pelo nosso carro de apoio e prosseguiu nele até a Barra do Chuí.

O Quinto dia:

Nesse dia meus pés doíam muito e o pé esquerdo estava muito inchado, mas continuei caminhando, sabia que quando o corpo começasse a ” esquentar” as dores iam amenizar, mas isso levava umas duas horas. Aprendi a ver o tempo de forma diferente, a contar as horas pela minha sombra no chão que caminhava silenciosamente girando ao lado do meu corpo. Tínhamos finalmente chegado ao Farol do Albardão.
Lá, gentilmente, nos foi oferecido banho, o que naquele momento era um bálsamo. Após 4 dias tentando nos lavar nos arroios encontrados perto das dunas, finalmente tomei banho. Me surpreendi com a água escura que escorria do meu corpo. Logo depois me joguei no sofá como se nunca tivesse deitado em um.

O sexto dia:

Já no penúltimo dia de caminhada, senti muita dor no pé esquerdo, talvez por isso comecei um pouco indecisa sem saber se iria concluir. Mas como nos dias anteriores, a dor já era minha companheira. Aprendi a conviver com ela e caminhei por caminhos nunca caminhados interiormente. A dor física nos leva a este lugar. E durante muitas horas divagava em pensamentos de toda minha vida, desde lembranças da infância até o momento que ali caminhava. Nesse tempo se passaram umas 3 horas de caminhada (chorei muito). Logo depois já estava na metade do dia.
Quando cheguei ao final já mancava, tendo muita dificuldade de montar a barraca.

Quando terminamos , pensei : “vou ficar por aqui de perna para cima”. Não conseguiria atravessar o arroio para ir jantar, pois o local de montagem da tenda teve que mudar por causa das formigas, assim teria que caminhar um pouco mais para chegar até a tenda.
Foi quando o amigo Marcos Carrasqueira percebeu a minha dor e gentil e fortemente me carregou nos braços até a tenda de alimentação. Jamais esquecerei isso amigo Marcos Carrasqueira!

O sétimo dia:

Na véspera pensei: “amanhã vou me rebocar no 4×4, não vai ter jeito, não sou mulher maravilha, jogarei a toalha.” E comentei isso com Lavínia, no que ela me respondeu no seu gauchês:
“Pô guria estava pensando que tu ia até o final, estava botando fé em ti…”
Isso era o que faltava para ativar algo em mim…
Assim levantei muito cedo ainda mais cedo do que nos outros, me arrumei e parti sozinha, com um único pensamento: vou chegar!
Esse sétimo e último dia são flashes, como no momento em que afundei até a canela na areia molhada. Foi preciso ser puxada pela Bárbara várias vezes.
A dor que sentia me fez tirar o tênis e continuar de meia. Outro momento marcante foi quando avistamos um pouco de civilização e um menino chamado Lucas nos informou onde tinha uma praça e um bar. Era no Hermenegildo (+ conhecido como Hermena). Lá usamos o sanitário, pela primeira vez depois de 7 dias. Vi meu rosto no espelho. Comemos, bebemos e partimos. Ainda faltava mais ou menos 14 km, os últimos da caminhada. Não sabia se ia aguentar tanto, de meia ou descalço.
Mas não tinha opção, o tênis molhado e encharcado seria pior. Não tinha no que pensar, era continuar seguindo na esperança de avistar o último farol. Quando avistado ainda teria que caminhar mais uns 5km. Era sempre assim ele aparecia na neblina como miragem e passo a passo ia tomando forma.Ora aparecia, ora sumia, mas eu sabia, ele estava lá e eu ia chegar!
E neste último dia avistar o último farol, o do Chuí, tinha um gostinho de vitória!

Finalmente chegamos aos molhes do Chuí.
9 mulheres no dia 08 de março, dia internacional das mulheres!

Travessia dos Faróis, a maior praia do Mundo.
Do Cassino ao Chuí – 230 km em 7 dias.
Por Sueli Tostes.



Veja as fotos da travessia registradas pelo grupo

Álbum – Fotos da Travessia dos Faróis por Camila Coubelle

 

Álbum – Fotos da Travessia dos Faróis por Erick Sanz

 

Álbum – Fotos da Travessia dos Faróis por Rose Furriel

 

Álbum – Fotos da Travessia dos Faróis por Sueli Tostes

 

Álbum – Registros da Travessia dos Faróis por José Fernandes

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